Quando acabei de por a mesa, chamei os meus pais. Passado um bocado, apareceram, já bem dispostos, cada um com o seu telemóvel na mão. Estranho…
O que é o jantar, filha? A mãe parecia esfomeada, mas com uma cara de quem desejava uma lasanha de carne ou uma pizza com queijo. Bem podia tirar o cavalinho da chuva porque não era nada disso que a esperava.
Hum… aposto que vais gostar!, respondi eu, para não desfazer a felicidade da mãe. E para que são os telemóveis? Não vão precisar deles para o almoço.
Bem… filha… será que eu posso convidar a Paula para vir cá arranjar o computador comigo? Vá láááááá!!
Fiquei embasbacada a olhar para ela. Desde quando é que ela me pedia se podia trazer amigas lá a casa? Oh, sim! Já me lembro! Desde hoje de manhã! Desde que se anda a comportar como uma criancinha. Bem, como boa filha que era, e sou, preparei-me para dizer que sim, quando me lembrei que íamos ter visitas.
Desculpa, mãe. Mas a seguir ao almoço a Carolina vem cá. Talvez para a próxima. Tentei ser o mais paciente possível. Resumindo, falei como se estivesse a dar uma má notícia à minha prima Leonor, que tem cinco. Vi a mãe baixar a cabeça, começar a mexer os pés de um lado para o outro e a esfregar os olhos como se quisesse evitar que umas lágrimas incómodas saíssem de onde estavam. Embora sendo uma patetice, senti pena da mãe.
De seguida, eu pus o maravilhoso almoço na mesa e sentámo-nos. E isto é? O pai parecia confuso. Parecia não saber se aquilo era mesmo o almoço, ou era só para apreciarmos as lindas cores que continha dentro.
Bem é… uma salada! A salada… das cores! Olharam ambos para mim e de seguida, um para o outro. Servi os pratos deles primeiro e depois o meu.
Correu melhor do que o previsto. Acabaram de comer e disseram que gostaram muito do almoço. Passado uns minutos, tocaram à campainha. Carol! Aprecei-me a ir abrir a porta.
Olá! Então onde estão os teus «pais-criança»?
Não brinques, Carolina, tu já vais ver! Estava decidida a mostrar-lhe a verdade. Mais parecia ficção, mas era verdade.
Chamei os meus pais e lá apareceram eles, de mãos atrás das costas e com um sorriso infantil na cara. A Carolina olhou para mim com uma cara que, acho eu, queria dizer: então era isto que me querias mostrar?
Quem é que tu me pediste para convidar para vir cá a casa, mãe?
A Paula. É que eu tenho de arranjar o meu computador porque está um bocadinho avariado e era para não arranjar sozinha. E a Paulinha é muito simpática! A Carol olhou para mim. Estranho, mas não prova nada…
E sem que eu tivesse tempo de responder, logo o pai rompeu o silêncio. Ai! Se ela pode convidar uma amiga eu também quero!! Eu quero convidar o André! Ele é muito fixe! E eu não quero ter de estar sozinho e ter de aturar as duas mulheres, são umas chatas!
Sem que eu fizesse nenhum esforço, a Carolina estava chocada. Completamente. Estava de queixo caído a olhar para o pai. Quando me viu olhar para ela, levantou as mãos. Pronto! Eu acredito em ti! Sorri para mim mesma.
No momento que se seguiu, a Carolina chamou-me à parte para decidirmos o que fazer em relação a isto.
Temos de fazer qualquer coisa!!! Não queres aturar isto até ao fim da tua vida pois não??
E, de repente, uma ideia que eu achei óbvia, ergueu-se na minha cabeça. O que é que normalmente se faz quando uma (neste caso duas) pessoa(s) não está(estão) bem? Vai-se ao hospital!! Claro! Como é que eu não me tinha lembrado disto! Que cabeça! Contei a minha ideia à Carolina e ela concordou. Estávamos satisfeitas com a nossa (a minha!!) decisão. Vamos dizer-lhes.
Hum... pai, mãe, não vão poder convidar ninguém hoje! Porque...temos de ir a um sítio! Com vocês!
Ah sim? E que sítio é esse?, perguntou a mãe desconfiada.
Não se assustem! É melhor sentarem-se! (eu sei vejo demasiados filmes!) Pais, vou levar-vos ao hospital!
E, de seguida, vi os rostos dos meus pais mudarem TOTALMENTE!! Sei que é um sítio onde ninguém (ninguém normal) gostaria de ir, mas ficaram quase... doentes! Passaram de expressão infantil para expressão como se alguém estivesse prestes a morrer!! Tentei acalmá-los, mas...
Chega!!!! Querida, temos de lhe contar! Mau! Mas que... que se estaria a passar realmente? A Carolina também estava com um ar interrogativo.
Pois... parece que sim! Mas eu ia jurar que lhe tinha dito!, pensou a mãe.
Mãe, o que é que me tinhas dito??
Filha... tu sabes que nós nunca ensaiamos à tua frente mas este papel era muito difícil! Vamos fazer uma peça em que fazemos de filhos, lá na academia de teatro! Tínhamos de praticar! A tua mãe disse que te ia avisar, mas pelos vistos esqueceu-se. A mãe sorriu. Então comecei a compreender tudo isto! Afinal, não passava de um ensaio para uma peça! Que parva! Como não percebi logo isso? Só mesmo eu!
Fim!!!
Espero que tenham gostado da história! Daqui a uns dias virá a próxima!
Kiss,
Sissi